Na continuação do nosso desafio, vamos observar hoje que o autor sagrado faz diversas reflexões sobre diferentes temas, incluindo o consumo excessivo do vinho e sobre as relações com as mulheres, a imprudência da prostituição e a maledicência da língua. Ele também aborda a importância de evitar fofocas e palavras insensatas, comparando-as a uma flecha cravada na gordura da coxa, que pode ser fatal. O autor ainda discute a diferença entre a verdadeira sabedoria e a falsa sabedoria, destacando que o modo de agir dos pecadores não é prudente, mesmo que realizem obras de caridade. Faça a leitura de preferencia em sua Bíblia dos capítulos 19, 20, 21 e 22 do livro do Eclesiástico (Eclo).
Livro do Eclesiástico
19. 1 O operário dado ao vinho não se enriquecerá, e aquele que se descuida das pequenas coisas, cairá pouco a pouco. 2 O vinho e as mulheres fazem sucumbir até mesmos os sábios, e tornam culpados os homens sensatos. 3 Aquele que se une às prostitutas é um homem de nenhuma valia; tornar-se-á pasto da podridão e dos vermes; ficará sendo um grande exemplo, e sua alma será suprimida do número dos vivos.
O silêncio vale ouro
4 Aquele que é crédulo demais tem um coração leviano; sofrerá prejuízo e será tido como pecador contra si mesmo. 5 Quem se regozija com a iniqüidade será desonrado; quem detesta a correção abreviará a sua vida; quem odeia a tagarelice, destrói sua malícia. 6 Quem peca contra si próprio, arrepender-se-á de tê-lo feito; quem põe sua alegria na malícia, será apontado como infame. 7 Não repitas uma palavra dura e maldosa, e não serás prejudicado. 8 Não confies teu pensamento nem ao amigo nem ao inimigo. Se tiveres cometido uma falta, não a reveles, 9 pois ele te ouvirá, te observará, e, fingindo desculpar o teu pecado, te odiará. E estará sempre presente (para te prejudicar). 10 Ouviste uma palavra contra o teu próximo? Abafa-a dentro de ti; fica seguro de que ela não te fará morrer. 11 Por causa de uma palavra (irrefletida) o tolo estorce-se de dores, como uma mulher que geme para dar à luz. 12 Como uma flecha cravada na gordura da coxa, assim é uma palavra no coração do insensato.
Amigo tem direito ao crédito
13 Repreende o teu amigo, porque talvez não tenha compreendido, e diga: Nada fiz. Ou se o fez, para que não torne a fazê-lo. 14 Repreende o teu próximo, porque talvez não tenha dito (aquilo) de que é acusado. Ou, se o disse, para que não o torne a dizer. 15 Repreende o teu próximo, porque muitas vezes se diz o que não é verdade, 16 e não acredites em tudo o que dizem. Homem há que peca pela língua, mas sem fazer com intenção. 17 Pois quem não peca pela língua? Repreende o teu próximo antes de ameaçá-lo e dá ensejo ao temor do Altíssimo;
Verdadeira e falsa sabedoria
18 pois toda a sabedoria consiste no temor de Deus; nela está o temor de Deus. E em toda a sabedoria reside o cumprimento da lei. 19 O hábito de praticar o mal não é sabedoria; o modo de agir dos pecadores não é prudência. 20 Há uma malícia hábil que é execrável, e há uma estupidez que é apenas falta de sabedoria. 21 Mais vale o homem que tem pouca sabedoria, e a quem falta o senso, mas que tem o temor (de Deus), do que o homem que possui uma grande inteligência, e que transgride a lei do Altíssimo. 22 Há uma habilidade que não falha o alvo, mas que é iníqua. 23 Há quem fale com segurança e só diz a verdade, e há quem se humilhe maliciosamente, cujo coração está cheio de embuste. 24 Há quem se rebaixe com excesso em profunda humilhação, e quem abaixe a cabeça, fingindo não ver o que está oculto. 25 Se a fraqueza o impede de cometer o mal, não deixará de pecar, logo que houver ocasião. 26 Pelo semblante se reconhece um homem; pelo seu aspecto se reconhece um sábio. 27 As vestes do corpo, o riso dos dentes, e o modo de andar de um homem fazem-no revelar-se. 28 Há uma falsa correção na cólera de um insolente; há um modo de julgar que muitas vezes não é justo; e aquele que se cala dá prova de prudência.
Máximas diversas
20. 1 Oh! quanto melhor é admoestar que irritar-se, e não impedir de falar aquele que quer confessar a sua falta! 2 Como o eunuco que anseia por violentar uma donzela, 3 assim é o que, por violência, faz um julgamento iníquo. 4 Como é bom que o corrigido manifeste o seu arrependimento! Pois assim se evita um pecado voluntário. 5 Há quem se cale e é considerado sábio, e quem se torne odioso pela intemperança no falar. 6 Há quem se cale por não saber falar, e há quem se cale porque reconhece quando é tempo (de falar). 7 O sábio permanece calado até o momento (oportuno), mas o leviano e imprudente não espera a ocasião. 8 Aquele que se expande em palavras, prejudica-se a si mesmo; quem se permite todo o desregramento torna-se odioso. 9 Para o homem desprovido de instrução há proveito na infelicidade, mas há certas descobertas que lhe acarretam a ruína. 10 Há dom que não é útil. e há dom que é duplamente recompensado. 11 Há quem ache a sua perda na própria glória, e há quem levantará a cabeça após uma humilhação. 12 Há quem compre muito por um preço módico, mas que (de fato) o paga pelo sétuplo do seu valor. 13 O sábio torna-se amável por suas palavras, enquanto que os encantos do insensato desaparecem. 14 O donativo do insensato não te trará proveito, pois ele te fixa com sete olhos. 15 Ele dá pouco e censura muitas vezes; quando abre a sua boca é como uma fogueira. 16 Há quem empresta hoje e amanhã o reclama. Tal homem é odioso. 17 O insensato não tem amigos, e pelo bem que faz não será bem acatado, 18 porque os que comem o seu pão têm línguas falsas; quantas e quantas vezes não zombarão dele? 19 Pois não agiu com bom senso, distribuindo o que devia guardar e o que não devia guardar. 20 A queda de uma língua mentirosa é como uma queda na laje; assim a ruína dos maus virá de repente. 21 Um homem desagradável é como uma história ruim, que se acha continuamente na boca das pessoas mal-educadas. 22 Será mal recebida a máxima que sair da boca do insensato, pois que ele a diz fora de tempo. 23 Há quem se abstenha de pecar por falta de meios, mas ressente o aguilhão do pecado até em seu repouso. 24 Há quem perca a sua alma por causa do respeito humano; perde-a, cedendo a uma pessoa imprudente; perde-se por atender demasiadamente a uma pessoa. 25 Há quem, por falsa vergonha, faça uma promessa a um amigo, e dele se faça gratuitamente um inimigo.
Mal da aventura
26 A mentira é no homem uma vergonhosa mancha: não deixa os lábios das pessoas mal-educadas. 27 Mais vale um ladrão do que um mentiroso contumaz, mas ambos terão a ruína como partilha. 28 O comportamento dos mentirosos é aviltante, sua vergonha jamais os abandonará.
O sábio
29 O sábio atrai a si a estima por suas palavras; o homem prudente agradará aos poderosos. 30 Quem cultiva sua terra colherá montes de frutos; quem cultiva a justiça será ele próprio elevado; quem agrada aos poderosos fugirá da iniqüidade. 31 Os presentes e as dádivas cegam os olhos dos juízes. São em sua boca como um freio que os torna mudos e os impede de castigar. 32 Sabedoria escondida é tesouro invisível. Para que serve uma e outro? 33 Mais vale aquele que dissimula sua insipiência, do que aquele que esconde sua sabedoria.
Fuga do pecado
21. 1 Filho, pecaste? Não o faças mais. Mas ora pelas tuas faltas passadas, para que te sejam perdoadas. 2 Foge do pecado com se foge de uma serpente; porque, se dela te aproximares, ela te morderá. 3 Os seus dentes são dentes de leão, que matam as almas dos homens. 4 Todo pecado é como uma espada de dois gumes: a chaga que ele produz é incurável. 5 O ultraje e a violência destroem as riquezas. A mais rica mansão se arruína pelo orgulho; assim será desenraizada a riqueza do orgulhoso. 6 A oração do pobre eleva-se de sua boca até os ouvidos (de Deus), (e Deus) se apressará em lhe fazer justiça. 7 Aquele que odeia a correção segue os passos do pecador, aquele que teme a Deus volta ao seu próprio coração. 8 De longe é conhecido o poderoso de linguagem insolente, mas o homem sábio sabe como se descartar dele. 9 Quem constrói a sua casa às custas de outrem, é como aquele que amontoa pedras para (construir) no inverno. 10 A reunião dos pecadores é como um amontoado de estopas: seu fim será a fogueira. 11 O caminho dos pecadores é calçado de pedras unidas, mas ele conduz à região dos mortos, às trevas e aos suplícios. 12 Aquele que guarda a justiça penetrará o espírito dela. 13 A sabedoria e o bom senso são a consumação do temor a Deus.
O insensato e o sábio
14 Jamais tornar-se-á hábil aquele que não é sábio no bem, 15 pois há uma sabedoria que produz muito mal. E o bom senso não está onde está a amargura. 16 A ciência do sábio espalha-se como a água que transborda, e o conselho que ele dá permanece como fonte de vida. 17 O coração do insensato é como um cântaro lascado, nada retém da sabedoria. 18 Qualquer palavra sábia que ouça o homem sensato, ele a louvará e dela se aproveitará. Que a ouça um voluptuoso, e ela lhe desagradará, e ele a arremessará para trás de si. 19 A conversa do insensato é como um fardo para carregar, mas o encanto se acha nos lábios do homem sensato. 20 A conversação do homem prudente é procurada na sociedade; todos relembrarão suas palavras em seus corações. 21 A sabedoria é para o insensato como uma casa arruinada; a ciência do insensato é feita de palavras incoerentes. 22 A instrução é para o insensato como peias nos pés e como algemas nas mãos. 23 O insensato eleva a voz quando ri, mas o homem sábio sorri discretamente. 24 Para o homem prudente a ciência é um ornato de ouro, uma pulseira que traz no braço direito. 25 O insensato põe facilmente os pés na casa do vizinho, mas aquele que tem educação hesita em visitar um poderoso. 26 O insensato olha dentro de uma casa pela janela; o homem bem educado permanece fora. 27 É sinal de loucura escutar a uma porta; o homem prudente indigna-se com tal grosseria. 28 Os lábios dos imprudentes só proferem tolices, mas as palavras do sábio têm peso na balança. 29 O coração dos insensatos está na boca, a boca dos sábios está no coração. 30 Quando o ímpio amaldiçoa o adversário, amaldiçoa-se a si mesmo. 31 O delator macula-se a si próprio, e é odiado por todos; o que mora com ele será odioso, mas o homem sensato que se cala será honrado.
Educação dos filhos
22. 1 Ao preguiçoso é atirado esterco, só se fala dele com desprezo. 2 O preguiçoso é apedrejado com excremento, quem o tocar sacudirá a mão. 3 O filho mal educado é a vergonha de seu pai, a filha semelhante não gozará de nenhuma consideração. 4 Um jovem prudente é uma herança para o marido, mas a filha desavergonhada causa mágoa ao seu pai. 5 A mulher atrevida cobre de vergonha o pai e o marido; e é igual aos celerados: ambos a desprezam. 6 Uma palavra inoportuna é música em dia de luto; a sabedoria, porém, emprega com oportunidade o chicote e a instrução. 7 Instruir um insensato é tornar a ajustar um vaso quebrado;
Triste sorte do insensato
8 falar a quem não ouve é como despertar alguém de um sono profundo. 9 Falar da sabedoria com um insensato é conversar com alguém que está adormecendo; no fim da conversa ele dirá: Que é? 10 Chora sobre um morto, porque ele perdeu a luz; chora sobre um tolo, porque é falho de juízo. 11 Chora menos sobre um morto, porque ele achou o repouso; 12 a vida criminosa do mau, porém, é pior do que a morte. 13 O luto por um morto dura sete dias, mas por um insensato e um ímpio, dura toda a sua vida. 14 Não fales muito com um estulto; não convivas com o insensato. 15 Acautela-te contra ele, para não seres incomodado; e não te mancharás com o contágio de seu pecado. 16 Afasta-te dele: encontrarás repouso, e a sua loucura não te causará mágoa. 17 O que há de mais pesado que o chumbo? E que outro nome dar-lhe a não ser o de insensato? 18 É mais fácil carregar areia, sal ou uma barra de ferro, do que suportar o imprudente, o tolo e o ímpio.
A firmeza
19 Um encaixamento de madeira adaptado aos alicerces de um edifício não se desconjunta. Assim é o coração firmado por uma decisão bem amadurecida. 20 O desígnio de um homem sensato, em qualquer tempo que seja, não será alterado pelo temor. 21 Como a estacada posta em lugar elevado e a parede sem argamassa não podem resistir à violência do vento, 22 assim um coração tímido, de pensamentos tolos, não pode resistir ao choque do temor. 23 O coração medroso do insensato jamais tem temor em seus pensamentos; assim também o que não se apóia nos preceitos divinos.
Respeito à amizade
24 Quem machuca um olho, dele faz sair lágrimas; quem magoa um coração, nele excita a sensibilidade. 25 Quem lança uma pedra aos pássaros, fá-los fugir; assim, quem insulta um amigo, rompe a amizade. 26 Ainda que tenhas arrancado a espada contra o teu amigo, não desesperes; porque o regresso é possível. 27 Ainda que tenhas dito contra ele palavras desagradáveis, não temas, porque a reconciliação é possível, salvo se se tratar de injúrias, afrontas, insolências, revelação de um segredo ou golpes à traição; em todos esses casos fugirá de ti o teu amigo. 28 Permanece fiel ao teu amigo em sua pobreza, a fim de te alegrares com ele na sua prosperidade. 29 Permanece-lhe fiel no tempo da aflição, a fim de teres parte com ele em sua herança. 30 O vapor e a fumaça elevam-se na fornalha antes do fogo; assim o homicídio e o derramamento de sangue são precedidos de injúrias, ultrajes e ameaças. 31 Não me envergonharei de saudar um amigo, nem me esconderei da sua presença; e se me acontecer algum mal por isso, eu o suportarei, 32 mas quem o souber, dele desconfiará.
Oração para ser preservado do pecado
33 Quem porá uma guarda à minha boca, e um selo inviolável nos meus lábios, para que eu não caia por sua causa, e para que minha língua não me perca?