DESAFIO: "A BÍBLIA EM UM ANO"

Ducentésimo quarto dia: Ações de Deus sobre os egípcios em favor dos hebreus

Na leitura de hoje meditaremos sobre a ação de Deus em favor do seu povo, observaremos uma comparação entre a sorte dos egípcios e dos hebreus, ressaltando a superioridade do povo hebreu. O autor utiliza a narrativa do Êxodo para mostrar a sabedoria de Deus e como Ele trata cada um segundo os seus méritos. Através de uma recapitulação da história, o autor destaca como Deus alimentou o povo hebreu durante sua jornada pelo deserto, utilizando até mesmo milagres como o fornecimento de codornizes. O texto também menciona a morte dos primogênitos no Egito e como isso fez com que o povo reconhecesse que os hebreus eram verdadeiramente filhos de Deus. O autor também faz alusões à vestimenta de Arão e aos nomes dos patriarcas. Faça a leitura de preferencia em sua Bíblia dos capítulos 16, 17, 18 e 19 do livro da Sabedoria (Sb).

Livro da Sabedoria

Reinterpretação do Êxodo

Carne no deserto

16.   1.Por isso, foram justamente castigados por animais dessa espécie e atormentados por uma multidão de animais; 2.em vez de feri-lo assim, vós favorecíeis vosso povo, satisfazendo por um alimento surpreendente o ardor de seu apetite, e oferecendo-lhe por alimento codornizes.* 3.De tal modo que aqueles, mau grado sua fome, diante do aspecto hediondo de animais enviados contra eles, experimentaram a náusea; estes, após uma curta privação, receberam um alimento maravilhoso.* 4.Pois era preciso que os primeiros, os opressores, fossem oprimidos por uma inexorável fome, e que aos outros fossem apenas mostrados os tormentos suportados por seus inimigos.

Serpentes

5.Efetivamente, quando o cruel furor dos animais os atingiu também, e quando pereceram com a mordedura de sinuosas serpentes, vossa cólera não durou até o fim.* 6.Foram por pouco tempo atormentados, para sua correção: eles possuíram um sinal de salvação que lhes lembrava o preceito de vossa Lei.* 7.E quem se voltava para ele era salvo, não em vista do objeto que olhava, mas por vós, Senhor, que sois o salvador de todos. 8.Com isso, mostráveis a vossos inimigos, que sois vós que livrais de todo o mal. 9.Quanto a eles as mordeduras dos gafanhotos e das moscas os matavam e não se encontrou remédio para salvar sua vida, porque mereciam ser castigados por tais instrumentos; 10.mas a vossos filhos, mesmo os dentes de serpentes venenosas não os puderam vencer porque, sobrevindo a vossa misericórdia, curou-os. 11.Eram picados, para que se lembrassem de vossas palavras, e, em seguida, ficavam curados, para que não viessem a esquecê-las completamente e a subtraírem-se de vossos benefícios. 12.Não foi uma erva nem algum unguento que os curou, mas a vossa palavra que cura todas as coisas, Senhor. 13.Porque vós sois senhor da vida e da morte. Vós conduzis às portas do Hades e de lá tirais;* 14.enquanto o homem, se pode matar por sua maldade, não pode fazer voltar o espírito uma vez saído, nem chamar de volta a alma que o Hades já recebeu.

A natureza a favor de Israel

15.Escapar à vossa mão é impossível, 16.e os ímpios, que recusaram conhecer-vos, foram fustigados pela força de vosso braço, perseguidos por chuvas extraordinárias, saraivas e implacáveis tempestades, e consumidos pelo fogo dos raios.* 17.O que havia de mais admirável ainda é que, na água que tudo extingue, o fogo tomava mais violência, porque o universo toma a defesa dos justos.* 18.Ora, a chama temperava seu ardor para não queimar os animais enviados contra os ímpios, para que estes se apercebessem e reconhecessem que eram perseguidos pelo julgamento de Deus.* 19.Ora, excedendo sua força habitual, o fogo ardia mesmo no meio da água para destruir os frutos de uma terra iníqua… 20.Mas, pelo contrário, foi com o alimento dos anjos que alimentastes vosso povo, e foi do céu que, sem fadiga, vós lhe enviastes um pão já preparado, contendo em si todas as delícias e adaptando-se a todos os gostos.* 21.Esta substância que dáveis se parecia com a doçura que mostráveis a vossos filhos. Ela se adaptava ao desejo de quem a comia, e transformava-se naquilo que cada qual desejava. 22.Embora fosse como neve e gelo, ela suportava o fogo sem se fundir, para mostrar que era para os inimigos que o fogo destruía as colheitas, quando ardia, apesar da saraiva, e brilhava debaixo de chuvas,* 23.enquanto que, quando se tratava de alimentar os justos, até perdia sua natural violência.* 24.A criatura que vos é submissa, a vós, seu Criador, aumenta sua força para castigar os maus, e os modera para o bem dos que puseram em vós sua fé. 25.Do mesmo modo, transformada em tudo que se queria, servia à vossa generosidade que a todos alimenta, segundo a vontade dos que dela tinham necessidade, 26.para que os filhos que vós amais, Senhor, aprendessem que não são os frutos da terra que alimentam o homem, mas é vossa palavra que conserva em vida aqueles que creem em vós. 27.O que não era destruído pelo fogo, fundia-se ao simples calor de um raio de sol,* 28.para que se soubesse que é preciso antecipar-se ao sol para vos agradecer, e que é preciso adorar-vos antes de raiar o dia; 29.porque a esperança do ingrato é como a geleira do inverno, que se derramará como água inútil.

A prega das trevas

17.   1.Em verdade, grandes e impenetráveis são vossos juízos, Senhor; por isso, as almas grosseiras caíram no erro. 2.Por terem acreditado que podiam oprimir a santa nação, os ímpios, prisioneiros das trevas e encarcerados por uma longa noite, jaziam encerrados nas suas casas, tentando escapar à vossa incessante vigilância.* 3.Depois de terem imaginado que, com seus secretos pecados, ficariam escondidos sob o sombrio véu do esquecimento, eles se viram dispersados, como presa de um terrível espanto, e amedrontados por alucinações.* 4.Mesmo o canto mais afastado em que se abrigavam não os punha ao abrigo do terror: ruídos aterradores ressoavam em torno deles, e taciturnos espectros de lúgubre aspecto lhes apareciam. 5.Nenhuma chama, por intensa que fosse, chegava a iluminar. E a luz brilhante dos astros era impotente para alumiar esta noite sombria. 6.Mas aparecia-lhes de súbito nada mais que uma chama aterradora, e, tomados de terror por esta visão fugitiva, julgavam essas aparições mais terríveis ainda. 7.A arte dos mágicos se mostrou ilusória, e esta sabedoria, a que eles pretendiam, evidenciou-se vergonhosamente como falsidade.* 8.Aqueles que se jactavam de banir das almas doentes o terror e a perturbação, eram eles mesmos atormentados por um ridículo temor. 9.Mesmo quando nada de mais grave os aterrorizava, a passagem dos animais e o silvo das serpentes punham-nos fora de si, e eles morriam de medo. Recusavam até mesmo contemplar essa atmosfera à qual nada podia escapar; 10.porque a maldade, condenada por seu próprio testemunho, é medrosa, e, sob o peso da consciência, supõe sempre o pior, 11.pois o temor não é outra coisa que a privação dos socorros trazidos pela reflexão,* 12.porque, quanto menor for em sua alma a esperança de auxílio, tanto mais penosa é a ignorância daquilo de que se tem medo. 13.Eles, durante essa noite de impotência, saída dos recantos do Hades impotente, dormiam num mesmo sono, 14.agitados, de um lado, pelo terror dos espectros, e paralisados, de outro, pelo desfalecimento da alma; pois era um pavor repentino e inesperado o que se abatera sobre eles. 15.E todo aquele que caía sem força ficava como que preso e encerrado num cárcere sem ferros.* 16.Fosse ele camponês ou pastor, ou o operário que se afadiga sozinho no seu trabalho, uma vez surpreendido, tinha de suportar a inevitável necessidade, porque todos estavam ligados por uma mesma cadeia de trevas. 17.O silvo do vento, o canto harmonioso dos passarinhos nos ramos espessos, o murmúrio da água correndo precipitadamente, o estrondo das rochas que se despenhavam, 18.a carreira invisível dos animais que saltavam, os urros dos animais selvagens, o eco que repercutia nas cavidades dos montes: tudo os paralisava de terror. 19.Enquanto o mundo inteiro era alumiado de uma brilhante luz, e sem obstáculo se entregava às suas ocupações, 20.somente sobre eles se estendia uma pesada noite, imagem das trevas que mais tarde os deviam acolher; e eram para si mesmos um peso mais insuportável que esta escuridão.*

18.   1.Contudo, para vossos santos havia uma luz brilhantíssima. Sem verem seus semblantes, os outros ouviam-lhes a voz, e julgavam-nos felizes por não sofrerem os mesmos tormentos. 2.Davam-lhes graças, porque não se vingavam dos maus-tratos suportados, e pediam-lhes perdão de sua inimizade.* 3.Pelo contrário, vós destes uma coluna luminosa para guiá-los na sua marcha para o desconhecido, como um sol que sem incomodá-los alumiava seu glorioso êxodo.* 4.Mas eles bem mereciam ser privados da luz e aprisionados nas trevas, eles, que tinham encerrado em prisões os vossos filhos, através dos quais a incorruptível luz da Lei se devia comunicar ao mundo.*

A morte dos primogênitos 

5.Também tinham resolvido levar à morte os filhos dos santos, mas um deles foi exposto e salvo, e para puni-los fizestes perecer em multidão os seus filhos, e, todos juntos, vós os aniquilastes na profundeza das águas.* 6.Esta mesma noite tinha sido conhecida de antemão por nossos pais, para que, conhecendo bem em que juramentos confiavam, ficassem cheios de coragem.* 7.Assim vosso povo esperava tanto a salvação dos justos como a perdição dos ímpios, 8.e, pelo mesmo fato de terdes destruído nossos inimigos, vós nos convidastes a ser vossos e nos honrastes.* 9.Por isso, os santos filhos dos justos ofereciam secretamente um sacrifício; de comum acordo estabeleciam o pacto divino: que os santos participariam dos mesmos bens e correriam os mesmos perigos; e entoavam já os hinos de seus pais,* 10.quando se elevaram os gritos confusos dos inimigos e se espalharam as lamentações dos que choravam seus filhos. 11.Uma mesma sentença feria o escravo e o senhor, o homem do povo sofria o mesmo castigo que o rei. 12.Todos igualmente tinham um número incalculável de mortos abatidos da mesma maneira; os sobreviventes não eram suficientes para sepultá-los, porque, num instante, sua melhor geração era exterminada. 13.Depois de terem permanecido incrédulos por causa de seus sortilégios, reconheceram, vendo morrer seus primogênitos, que esse povo era verdadeiramente filho de Deus,* 14.porque, quando um profundo silêncio envolvia todas as coisas, e a noite chegava ao meio de seu curso, 15.vossa palavra todo-poderosa desceu dos céus e do trono real, e, qual um implacável guerreiro, arremessou-se sobre a terra condenada à ruína.* 16.De pé, ela tudo encheu de morte, e, pisando a terra, tocava os céus. 17.No mesmo instante, visões e sonhos terríveis os perturbaram, e temores inesperados os assaltaram;* 18.tombando aqui e acolá, semimortos, revelavam a causa da morte que os atingia; 19.porque os sonhos que os tinham agitado tinham-nos informado antecipadamente, para que eles não perecessem sem conhecer a causa de sua desgraça.

Expiação

20.Verdade é que a prova da morte feriu também os justos, e numerosos foram os que ela abateu no deserto, mas a ira de Deus não durou muito tempo, 21.porque um homem irrepreensível se apressou a tomar sua defesa, servindo-se das armas de seu ministério pessoal, a oração e o sacrifício expiatório do incenso. Opôs-se à ira, e pôs fim ao flagelo, mostrando que era vosso servo.* 22.Dominou a revolta, não pela força física, nem pela força das armas, mas pela sua palavra deteve aquele que castigava, relembrando-lhe os juramentos feitos aos antepassados e a aliança estabelecida. 23.Já os mortos se amontoavam uns sobre os outros, quando ele interveio, deteve a cólera e afastou-a dos vivos. 24.Na sua longa vestimenta estava representado o universo inteiro; nas quatro fileiras de pedras os nomes gloriosos dos patriarcas; e no diadema de sua cabeça vossa Majestade.* 25.Diante destas coisas cedeu o exterminador e foi diante destas coisas que retrocedeu: porque a simples demonstração de vossa ira era suficiente.

A passagem do Mar Vermelho

19.   1.Quanto aos ímpios, inexorável foi a ira que os perseguiu até o fim: porque Deus previa o que eles haveriam de fazer, 2.isto é, depois de terem deixado partir os justos, instando mesmo que fossem embora, mudariam de opinião e os perseguiriam. 3.Na verdade, eles estavam ainda enlutados, e gemiam ainda sobre a tumba de seus mortos, quando loucamente tomaram outra resolução e perseguiram, como a fugitivos, aqueles aos quais tinham rogado que partissem. 4.Um merecido destino os impelia a esse proceder extremo, e os atirava no olvido dos acontecimentos passados, para que sofressem, em meio a tormentos, um castigo completo, 5.e fossem feridos de uma morte insólita, enquanto vosso povo tentava uma extraordinária passagem. 6.É que toda a criação, obedecendo às vossas ordens, foi remodelada em sua natureza, para que vossos filhos fossem conservados ilesos.* 7.Foi vista uma nuvem cobrir o acampamento, e a terra seca surgir do que tinha sido água, um caminho viável formar-se no Mar Vermelho, e um campo verdejante emergir das ondas impetuosas.* 8.Por aí passou toda ela, a nação dos que vossa mão protegia, e que viram singulares prodígios. 9.Iam como cavalos conduzidos à pastagem, e saltavam como cordeiros, glorificando a vós, Senhor, seu libertador, 10.porque eles se lembravam ainda do que tinha acontecido na terra estrangeira: como a terra, contrariando a geração dos vivos, tinha produzido moscas, e como o rio, em lugar de peixes, tinha lançado fora uma multidão de rãs. 11.Mais tarde, viram ainda nascer uma nova espécie de pássaros, quando, premidos pela cobiça, pediram manjares delicados, porquanto, para satisfazê-los, codornizes subiram do mar. 12.Os castigos não surpreenderam os pecadores, sem que fossem antes advertidos pela violência dos raios.*

Escravidão de hóspedes

13.Suportavam justamente o castigo de sua própria maldade, porque tinham mostrado excessivo ódio pelo estrangeiro. 14.Houve muitos que não quiseram receber hóspedes desconhecidos, mas estes reduziram à escravidão hóspedes que tinham sido benfeitores.* 15.E isso não é tudo; haverá algo a mais que um castigo qualquer para aqueles que acolheram mal os estrangeiros: 16.mas estes, a princípio, receberam bem seus hóspedes, e concederam-lhes a participação em seus direitos. Em seguida, eles os encheram de males. 17.Do mesmo modo, foram feridos de cegueira, como aqueles homens, às portas do justo, quando, envolvidos por uma profunda escuridão, procuravam, cada um de seu lado, o caminho para suas casas.*

Conclusão

18.Assim, os elementos mudavam suas propriedades entre si, como na harpa os sons mudam de ritmo, conservando a mesma tonalidade. É o que se pode verificar perfeitamente quando se consideram esses acontecimentos. 19.Os seres terrestres tornavam-se aquáticos, os que nadam passavam à terra,* 20.o fogo era mais violento debaixo da chuva, e a água esquecia a propriedade que tem de extingui-lo. 21.Além disso, as chamas não ofendiam as carnes dos frágeis animais que as atravessavam, e não liquefaziam esse alimento celeste, semelhante ao gelo e inteiramente capaz de se derreter. 22.É que em tudo, Senhor, engrandecestes e glorificastes vosso povo, e não deixastes de assisti-lo em todo o tempo e em todo o lugar.

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