Seu testamento: “Nasci pobre, vivi na pobreza e quero morrer pobre”
Um dos grandes santos do século XX ainda é pouco “falado” nas rodas de conversas das paróquias e grupos de oração, em contraste com os santos mais populares entre os devotos.
E ele merece ser muito mais conhecido, admirado e venerado: afinal, seu legado é profundamente rico para todo católico que ame de verdade a Eucaristia.
Falamos de São Pio X, o Sumo Pontífice da Igreja Católica entre 1903 e 1914, considerado “o Papa da Eucaristia” por causa do seu amor pessoal a Jesus Sacramentado, por causa do seu grande incentivo à comunhão diária de todos os fiéis e por causa da sua permissão para que as crianças também comunguem – desde que entendam Quem está na Hóstia Consagrada.
Infância, juventude e primeiros anos de sacerdócio
Batizado Giuseppe Sarto, o futuro papa e santo nasceu em Risse, nas proximidades de Veneza, em 1835. Órfão de pai desde muito cedo, o pequeno Giuseppe tentou abandonar os estudos para ajudar a mãe, mas ela quis que o filho desse continuidade à sua formação.
Graças a uma bolsa, ele entrou no seminário e, depois de ordenado sacerdote, foi exercendo ministérios, pastorais e cargos eclesiásticos marcados por uma curiosa coincidência: ficou nove anos em cada um deles.
Nove anos vigário, nove anos pároco, nove anos cônego, nove anos bispo de Mântua e nove anos Cardeal Patriarca de Veneza. Ele até brincava dizendo que só lhe faltavam nove anos de Papa…
São Pio X ficaria onze anos como Papa.
Em 1903, após a morte do grande Papa Leão XIII, a fumaça branca do conclave anunciou ao mundo que o cardeal Giuseppe Sarto se chamaria Pio X e seria o novo Sumo Pontífice de todos os católicos.
Uma de suas primeiras medidas foi acabar com o suposto “direito” do poder civil de interferir nas eleições papais. De fato, o próprio conclave que o elegera tinha sofrido ingerência do imperador austro-húngaro Francisco José, que vetou o nome do cardeal Mariano Rampolla del Tíndaro, até então considerado um dos favoritos ao papado. Aquela foi a última vez, de fato, que um governante exerceu o poder de veto em um conclave da Igreja.
A separação entre Igreja e Estado prosseguiu também na França, favorecendo que a Santa Sé pudesse nomear diretamente os bispos daquele país. Até 1905, as nomeações episcopais precisavam passar pelo crivo dos poderes civis franceses.
São Pio X defendeu com ênfase os oprimidos, como no famoso episódio em que denunciou os maus tratos impostos aos índios nos seringais da Amazônia peruana. Ele mesmo visitava as redondezas do Vaticano para conversar com as pessoas, falando sempre do tema-chave do Evangelho do dia.
Fama de santidade
Quando alguém o chamava de “santo”, ele respondia, bem-humorado, em referência ao próprio sobrenome: “Não é santo, é Sarto!”
Mas a fama de santidade crescia a olhos vistos, envolvendo até prodígios como o caso de um homem que, durante uma audiência pública, lhe mostrou seu braço paralisado e pediu a graça da cura. O Papa se aproximou, tocou no seu braço e, sorrindo, lhe disse apenas: “Sim, sim”.
O homem recuperou os movimentos do braço.
São Pio X ainda profetizou a eclosão da Primeira Guerra Mundial, em 1914. Poucos dias antes de falecer, em 20 de agosto daquele mesmo ano tão trágico para a história da humanidade, ele declarou: “Esta será a última aflição que o Senhor me envia. Com gosto eu daria a vida para salvar os meus pobres filhos desta calamidade terrível”.
Papa da Eucaristia e do Catecismo
Mas a sua grande fama é mesmo ligada ao seu intenso amor eucarístico. São Pio X escreveu vários decretos sobre o Sacramento da Eucaristia, recomendando e louvando a comunhão diária e promovendo a primeira comunhão das crianças que já entendessem que a Santa Hóstia é o próprio Jesus.
A propósito dessa compreensão, ele também fez grandes esforços para que os católicos em geral conhecessem melhor a própria fé. Por sua iniciativa, foi desenvolvida uma versão em linguagem muito simples de todos os conteúdos do Catecismo, ricamente ilustrada e até hoje conhecida como “Catecismo de São Pio X”.
Esse precioso recurso catequético pode ser conferido, por exemplo, no seguinte artigo:
Canonização
São Pio X, que deixara escrito em seu testamento “Nasci pobre, vivi na pobreza e quero morrer pobre”, foi canonizado em 1954 pelo Papa Pio XII.
Fazia quase 250 anos que um Papa não era elevado aos altares: o último tinha sido São Pio V, canonizado em 1712.
Sua festa litúrgica é celebrada em 21 de agosto, dia seguinte à sua partida para a eternidade.