“E Maria pôs-se a pensar…” (Lc 1,29)
Nos primeiros passos da Comunidade de São Pio X, ainda quando tudo era semente e esperança, havia um homem de semblante sereno e passos silenciosos que, fielmente, tomava sempre o mesmo lugar nos bancos de nossa pequena capela. Era Rui de Oliveira — presença discreta, mas profundamente marcante.
Sentava-se em silêncio durante os grupos de oração, e com o tempo, despertou a atenção de nosso fundador, Antônio Lucena, e de sua esposa, Maria da Guia. Aproximaram-se e descobriram, com gratidão, que aquele homem era um professor universitário, mestre em seu ofício, doutor nas ciências humanas, mas aprendiz humilde diante das verdades eternas.
Rui buscava, com coração aberto, conhecer a Palavra de Deus, mergulhar no ensinamento da Igreja, compreender a riqueza do magistério e da tradição. E assim, o professor de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Estadual da Paraíba tornava-se também mestre das Escrituras, anunciador apaixonado da doutrina católica, testemunha fiel da fé.
Homem de profundo saber, falava idiomas, compreendia o mundo com amplitude intelectual, mas o que mais encantava era sua delicadeza, sua educação, sua firmeza serena e sua fé silenciosa. Nunca buscava conflito, nunca impunha sua presença. Vivia para servir, para edificar, para formar.
Na comunidade, Rui não apenas ensinou — ele formou uma geração. Muitos dos primeiros membros associados da Comunidade de São Pio X beberam de sua fonte. Eu mesmo, com gratidão, fui um desses. Ele nos ensinou a pensar, a refletir, a contemplar. Sempre citava Maria, a Mãe de Deus, naquela passagem silenciosa e densa de significado: “E Maria pôs-se a pensar”. Assim era Rui: pensava antes de falar, meditava antes de ensinar, discernia antes de agir.
Seu legado não ficou restrito à nossa comunidade. Quando, no início dos anos 2000, decidiu seguir novos caminhos e experiências eclesiais, permaneceu fiel ao seu chamado: evangelizar com inteligência, com zelo, com verdade. Jamais renegou a origem. Levou consigo a marca da nossa comunidade, que continua viva em tantos corações que tocou.
Homem de profunda espiritualidade, esposo fiel de Janete, pai amoroso, presença constante de fé em sua família. Mesmo em silêncio, evangelizava. Mesmo à distância, permanecia unido.
No dia 2 de junho, na sétima semana do Tempo Pascal, Rui fez a sua Páscoa. Partiu às vésperas de Pentecostes — esse tempo em que a Igreja aguarda a plenitude do Espírito. O mesmo Espírito Santo que ele tanto amou, conheceu, ensinou e viveu, agora o acolhe na eternidade.
Hoje, ao recordarmos Rui de Oliveira, o fazemos com reverência, com ternura e com gratidão. Sua memória permanece como semente boa, que germinou em solo fértil e frutificou em muitos.
Na comunhão dos santos, ele permanece conosco. E, como Maria, nos ensina — ainda hoje — a colocar-nos a pensar diante dos mistérios de Deus.
Gustavo Lucena, fvc