Para morrer bem é preciso viver em Cristo

Em nossa caminhada cristã, a questão da morte não deve ser evitada, mas encarada como uma oportunidade para refletirmos sobre o propósito da nossa vida. O Catecismo da Igreja Católica nos ensina que “a morte põe fim à vida do homem como tempo aberto à aceitação ou à rejeição da graça divina manifestada em Cristo” (CIC §1021). Esse ensinamento nos convida a olhar para o fim da nossa existência com o coração voltado para Deus, sabendo que a qualidade de nossa morte depende da vida que levamos. Para morrer bem, é necessário viver plenamente em Cristo.

Viver para Cristo: O sentido da nossa existência

A música “Viver pra Mim é Cristo”, Pe. Fábio de Melo expressa uma verdade fundamental da vida cristã: viver para Cristo e colocar toda a nossa confiança em Deus, mesmo em meio aos desafios e perseguições. Ao afirmar “não há outra questão, quando se é cristão, não se para de lutar”, o autor nos lembra que ser cristão não é uma vocação passiva, mas um contínuo combate ao mal e uma busca constante pela santidade. É o próprio Cristo quem nos fortalece para enfrentar as dificuldades, e é n’Ele que encontramos sentido e consolo.

Esse chamado à perseverança ecoa nas palavras de São Paulo em sua carta aos Filipenses: “Para mim, viver é Cristo, e morrer é lucro” (Fl 1,21). Essa compreensão profunda de que a vida só tem sentido em Cristo nos conduz a uma vida pautada pelo amor, pelo serviço e pelo compromisso com a verdade. Como São Paulo, somos chamados a combater o bom combate, guardar a fé e completar nossa carreira (cf. 2Tm 4,7). 

Preparando-se para o Céu: a purificação e o Purgatório

A Igreja, ao longo dos séculos, também nos ensina que o fim de nossa jornada nesta vida não é o fim da nossa existência, mas o início de uma nova etapa de comunhão com Deus. E aqui entra a importância da doutrina do Purgatório, muitas vezes mal compreendida ou negligenciada. Padre Paulo Ricardo, em seu artigo, faz uma comparação valiosa entre o processo de catequese e o Purgatório: ambos são momentos de preparação para um novo estado de vida. 

O Purgatório, segundo o Catecismo, é um estado de purificação para aqueles que morreram na amizade de Deus, mas que ainda não estão totalmente purificados para entrar na glória do Céu. Essa purificação final é um reflexo da misericórdia divina, que deseja preparar-nos completamente para Sua presença. Da mesma forma que a catequese nos ensina a abandonar crenças e comportamentos que são incompatíveis com a fé, o Purgatório purifica nossas faltas e consequências remanescentes de nossos pecados. Por isso, é fundamental rezar pelas almas que estão nesse processo de purificação, para que logo possam entrar na bem-aventurança eterna.

A luta do cristão: não parar de lutar

No entanto, é importante lembrar que a preparação para a eternidade começa aqui, nesta vida. A luta contra o pecado, o compromisso com os sacramentos e o zelo pelas coisas de Deus são atitudes essenciais para aquele que deseja morrer bem. Na música de Pe. Fábio de Melo, encontramos a expressão clara dessa realidade: mesmo que calem nossa voz, mesmo que sejamos perseguidos, colocados em prisão ou traídos, nossa missão é não parar de lutar e de adorar a Deus.

Entendemos que o processo de catequese pode ser visto, metaforicamente, como um purgatório terreno, um tempo de purificação e aprendizado. Da mesma forma, nossa vida deve ser marcada pela busca contínua da santidade, pela purificação interior e pelo desejo de nos conformarmos a Cristo. Sabemos que, ao vivermos em Cristo, Ele transforma cada batalha, cada momento de sofrimento e cada luta interna em uma oportunidade de crescimento espiritual.

A chave para morrer bem

Para morrer bem, é preciso viver em Cristo. É preciso fazer de cada momento uma oferta de amor a Deus, reconhecendo que nossas lutas e sofrimentos são instrumentos de purificação e crescimento espiritual. Devemos nos empenhar em viver como verdadeiros cristãos, combatendo o bom combate e guardando a fé até o fim.

Assim, ao final de nossa jornada, poderemos olhar para trás e reconhecer que não estamos sós nesta batalha, pois Cristo esteve conosco em cada passo. E ao entrar na presença de Deus, ouviremos as palavras consoladoras de Nosso Senhor: “Vinde, benditos de meu Pai, recebei em herança o Reino preparado para vós desde a criação do mundo” (Mt 25,34). 

Portanto, vivamos cada dia com a firme decisão de sermos de Cristo, de lutar sem cessar, e de nos prepararmos, com esperança, para o encontro definitivo com Aquele que é o Senhor da nossa vida. Pois, para morrer bem, é preciso, acima de tudo, viver em Cristo.

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Gustavo Lucena, fvc

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