A solenidade de Cristo Rei, que a Igreja celebra no último domingo do tempo comum, finalizando o ano litúrgico foi instituída pelo papa Pio XI, em 1925, de forma bastante providencial, diante de tantos movimentos insurgentes espalhados pelo mundo, de caráter anticlerical. Era o fascismo na Itália, a revolução comunista na Rússia, a revolta maçônica no México. Eram inúmeras rebeliões que surgiam naquela época, revoltando-se contra Deus e sua Igreja, e nesse contexto é instituída uma festa litúrgica que nos lembra que Cristo é o Rei do Universo, não sendo esta uma questão de opnião. Trata-se da Verdade. E não é um reinado, de cunho meramente político, mas o reinado de Cristo sobre as almas, sobre nossos corações, sobre toda criatura. Inclusive, o reinado sobre toda alma salva e condenada. Sim, aqueles que forem salvos, santos, que forem colocados à sua direita viverão eternamente o seu reinado de alegria, paz e eterna glória. No entanto, aqueles que forem condenados, colocados à esquerda, aqueles que se recusarem a acolher seu senhorio, experimentarão o reinado de Cristo na perspectiva da eterna condenação. É bem verdade, como proclamamos no Credo: De novo virá em sua glória para julgar os vivos e os mortos, e o seu reino não terá fim.
Jesus é de fato rei celeste. Mas o seu reinado pode iniciar sobretudo nos nossos corações. É interessante observar quais os atributos de um Rei. Ele legisla, dirige e julga. O seu reinado é efetivo quando os seus súditos reconhecem suas leis e submetem-se a elas. São leis que apresentam um direito chamado Direito Divino. Sendo Rei, Cristo promulgou as leis. Ele também dirige o mundo, e segundo tais leis, julgará os homens. Podemos, portanto dizer que o Reino de Cristo, pode sim tornar-se efetivo, apesar deste mundo hostil, no sentido social, inclusive, sempre que conformarmos nossas ações, nossas leis, nossa cultura, manifestações artísticas, com a Lei de Cristo. É aí que está o dilema da humanidade.
Existe uma revolta interior no homem que não quer aceitar esta realidade do reinado de Cristo, de modo que por diversas maneiras, insistimos em tirar Cristo do seu trono, e entronizamo-nos a nós mesmos. Criando inúmeros subterfúgios a fim de conformar a sua lei divina ás nossas conveniências. Eis a marca que o pecado original imprimiu em nós. Este desejo intrínseco, escondido, de rebelião contra Deus, querendo forjar uma sociedade que se conforme aos interesses humanos e seus projetos frustrantes de felicidade.
Nisto entendemos que o reinado de Cristo acontece na sociedade que se curva e o aceita como Rei. São Pio X, falando em sua encíclica Il Fermo Proposito, dirigida aos bispos da Itália afirma que a civilização do mundo é civilização cristã; e tanto mais verdadeira, mais durável e mais fecunda ela é em preciosos frutos, quanto mais nitidamente cristã ela for; tanto mais declina, com imenso dano ao bem social, quanto mais se afastar da ideia cristã.
Infelizmente, é o que vemos percebendo nestes tempos tenebrosos. O mundo vem cada vez mais se afastando de Cristo, paganizando o que é sagrado, negociando os bens e valores cristãos, que na sua essência são inegociáveis, satirizando a família, a fecundidade do matrimônio, a relação homem e mulher, de modo que, o que se vê é a completa degeneração do fator civilizacional. A Igreja, que outrora moldara o ocidente, hoje é mais do que nunca perseguida e vilipendiada, tida por esta sociedade esquizofrênica, como religião obscurantista, inimiga do progresso, castradora e retrógrada. O fato é que já não se busca mais de todo o coração ser moldado a Cristo.
É certo que somos cidadãos do céu, mas vivemos na terra e nela devemos nos santificar e manter vivos os valores que nos foram transmitidos pelo Evangelho, de modo a contagiar a outros, fazendo despertar em cada homem o amor pela Verdade, pela Beleza, e pelo Bem. Cada vez mais é evidente a necessidade do testemunho cristão, haja vista que somos chamados a ser sal da terra e luz do mundo. Só assim a Igreja poderá manifestar o reinado de Cristo sobre toda a criação e sobre toda a civilização.
Para tanto, é necessário conformar a nossa mente, à mente deste Rei, os nossos pensamentos, aos pensamentos dEle. As nossas atitudes precisam estar em sintonia com as atitudes dele. Melhor dizendo, nossas ações devem ser inspiradas por Ele, e realizadas mediante o favor dEle, para que tudo comece e termine nEle, princípio e fim de todas as coisas. Sejamos verdadeiramente súditos do Grande Rei. Entreguemos a nossa vida a Ele, sendo violentos conosco mesmos a fim de vencermos nossas más tendências antes que elas mesmas nos destruam. Sejamos capazes de nos entregarmos, até o sangue se for preciso, por Aquele, que, sendo Rei se entregou por nós não poupando sequer sua própria divindade, esvaziando-se, não deixando nada para si, para que pudéssemos ser eleitos participantes de sua vida e cidadãos de sua Pátria.
É quando percebemos que faz todo sentido de proclamarmos com toda a Igreja, sobretudo no Grande Dia, o Dies Irae, quando Ele voltar,
VIVA, CRISTO REI, REI DO UNIVERSO!!!
Romero Frazão, fvc
Membro associado da Comunidade de São Pio X