Esta prática antiquíssima da Igreja de coroar a Virgem Maria solenemente vem do século XIII, muito embora, este costume tão salutar seja muito mais antigo, remontando aos primórdios do cristianismo como se pode atestar na iconografia cristã.
De qualquer forma esta tradição se solidificou mesmo por volta do século XIV. Mais adiante São Felipe Neri dá início ao costume de homenagear Nossa Senhora com flores, em meio à coroação.
De fato, a coroação da Virgem Maria enquanto prática devocional, sobretudo no mês de maio enriquece nossa vida espiritual, pois nos recorda o seu papel como co-redentora do gênero humano, por vontade de Deus, bem como nos remete à grande Theotokos (Mãe de Deus), lembrando-nos da vitória sobre o pecado, pelos méritos infinitos de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Afinal, esta é a Mulher que são João viu no céu, vestida de Sol, a lua debaixo dos pés e coroada por uma coroa de doze estrelas (Ap 12, 1). Tal coroa tem preço infinito, porque não foi coroada pelos homens, mas pelo próprio Deus, haja vista que foi adornada de virtudes, a imaculada, a toda santa sendo criatura humana superando em santidade todos os anjos e santos juntos.
Pois tal coroação nos recorda quão magnífico é o Rei, que desejou criar tamanha beleza em Maria, ao ponto de os Anjos exclamarem: “Quem será Ela?” Tão grandiosa, tão gloriosa e forte!!! Temida pelo universo, por quem o mundo treme, a conhecedora de todos os segredos do Verbo Eterno.
A Virgem triunfante, de cuja coroa revela um mistério poderoso e que nos ultrapassa, uma vez que ela fora ornada de Glória. A glória de Deus está sobre ela, uma vez que é vestida de sol, a quem os demônios temem e são obrigados a confessar para ruína deles a grandeza da mãe de Deus, a onipotência suplicante no dizer de São Luis de Montfort.
A grande guerreira, aquela que avança como aurora, temível como um exército em ordem de batalha, que triunfa sobre o inferno e extermina todas as heresias, a grande defensora da cidade santa, que conquista pela humildade o que Eva perdeu pelo orgulho. Pelo intermédio de Maria, a maldição de nossa primeira mãe foi dissipada. A grande generalíssima Virgem Maria, cujos títulos sempre serão insuficientes para designá-la.
Mas, sobretudo, coroamos a Virgem Maria porque nenhuma criatura humana ou angélica conduz de forma mais perfeita a Jesus Cristo do que Ela. Merece sim todas as honras, tamanha a sua união com Deus, uma união esponsal que prefigura o matrimônio entre a Igreja e o Cordeiro. Todos os santos amaram a Jesus graças a Nossa Senhora, tendo em vista sua tremenda e misteriosa fecundidade espiritual. A capacidade de gerar novos Cristos, a partir dos santos, dando continuidade ao mistério da Encarnação do Verbo na sua Igreja.
Por isto é coroada, a coroa das coroas, com toda a justiça que lhe é devida, a Senhora Soberana, como o seu próprio nome expressa. Quem poderá aproximar-se de ti sem se admirar? O tesouro de todas as virtudes, facilitadora de todos os favores sobrenaturais, união de todas as coisas boas, que nenhuma língua consegue exprimir e nenhuma inteligência consegue captar. Um dom divino para a humanidade e oferta da humanidade a Deus, como diria São Máximo Confessor.
O gesto de coroar Nossa Senhora parece então pequeno diante de tanta riqueza sobrenatural derramada por Deus sobre ela, tendo em vista os méritos infinitos de Nosso Senhor Jesus Cristo, uma vez que as coroas de graças que cingem a sua fronte, segundo São Pio X, correspondem à esplêndida manifestação da coroa de glória que é manifesta sobre Ela no céu.
Romero Frazão, fvc