Eis a Grande Semana! A Semana das semanas, que ora se inicia com o Domingo de Ramos e culminará com a festa da ressurreição: A Páscoa do Senhor. “Pesach”, em hebraico, que significa “passagem”. O centro da nossa fé. Que Mistério tremendo este que estamos a vivenciar. Podemos ir acompanhando ao longo de toda esta Semana. A entrada triunfal de Nosso Senhor em Jerusalém, onde se canta Hosana ao Filho de Davi, Hosana nas alturas, Bendito o que vem em nome do Senhor! Aclamado com ramos de Oliveira, montado em um jumento, em meio a todos os olhares do povo que esperava o Salvador, Jesus antevê a perseguição, a traição de Judas, a ceia Sagrada, instituição da Eucaristia e do Sacerdócio, sua agonia no horto, a flagelação, os escárnios no sinédrio, seu julgamento sob Pilatos. O mesmo que caminhava triunfante em Jerusalém, já antevia sua caminhada rumo ao Calvário, sua crucificação, sua Paixão … Sua Morte! Era o que Ele via. Finalmente, a Vida Verdadeira se encontra com a morte … E a morte era morte até o dia em que ela encontrou a cruz de Cristo. Este encontro tremendo impactou a morte de tal forma, que ela foi destruída. O Leão de Judá venceu a morte com a própria morte. Pois o Único no universo que podia escolher não morrer, dá-se de todo por nós, não restando nada para Si.
É o itinerário da Paixão, em que Nosso Senhor nos revela quão tal sacrifício é suficiente para nos formar quanto a todas as virtudes. Neste Domingo de Ramos, também chamado de Domingo da Paixão do Senhor, a Liturgia nos apresenta a narração da Sagrada Paixão de Nosso Senhor, convidando a mergulhar neste tão sublime Mistério. O que Cristo fez na cruz foi a maior obra de caridade que alguém poderia fazer, pois ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus amigos (Jo 15,13). Nesta semana tudo convida à meditação da Paixão. Tudo remete a despedida, como nos fala a Liturgia na Segunda-feira santa!! Até o jantar em Betânia com seus amigos, e onde Maria, irmã de Lázaro, unge os pés do Senhor com bálsamo, ao que o Senhor exclama que ela guardara este perfume para sua sepultura.
Somos todos convidados a seguir estes passos que a Liturgia da Semana Santa nos propõe e que vão culminar na cruz, onde todas as suas virtudes se mostram visíveis e experimentamos a sua eficácia. É o grande exemplo de paciência que podemos contemplar em Nosso Senhor. Paciência com Judas que o trai, paciência com Pedro que o nega, paciência com os demais apóstolos, que o abandonam, confusos, medrosos, de repente, ficam frouxos, tendo em vista a dor e o sofrimento, que desmascara nossa vulnerabilidade. Sim… Os Apóstolos revelam-nos quem somos: frouxos, tíbios, mesquinhos, egoístas. Mas o Senhor lá, paciente, até com os sacerdotes e demais judeus no seu julgamento, perante Caifás. Paciente com seu povo. Paciência verdadeira!! Ele sofre males que poderia evitar, mas não evita. Santíssima paciência do Homem-Deus: “Olhai e julgai se existe dor igual à dor que me atormenta” (Lm 1,12). Mais do que nunca a paciência é uma virtude necessária no nosso meio, em tempos de quarentena, na esperança de que tudo passa. São os passos que somos chamados a percorrer nesta Semana, juntamente com a Virgem das Dores, de cujo olhar, se encontra com o olhar do Senhor dos Passos! Encontro de olhares de onde emana somente o amor.
O Senhor é paciente, ainda diante de Pilatos, diante de Herodes, escarnecido, injuriado, flagelado, coroado de espinhos… Podia ter evitado tudo isso, mas não o fez. Paciência mesmo diante das tentações de Satanás, que mediante os escárnios, os insultos, toda a humilhação, fazia de tudo para que o Senhor desistisse de sofrer e pusesse um fim a tudo isso, abstendo-se de morrer na cruz. Pois Satanás sabia que a morte de Cristo na cruz seria para o Diabo, a sua terrível derrota. Daí toda sua tentativa para fazer Nosso Senhor desistir do seu objetivo, pois foi para esta hora que Jesus veio.
Que grande exemplo de humildade podemos encontrar, senão no crucificado? Pois foi Ele mesmo quem escolheu ser morto sob o julgamento de Pôncio Pilatos, mas que, na noite passada, a Quinta-feira, estava tão preocupado em lavar os pés dos seus apóstolos … e lavar os pés … ou na linguagem bíblica, no dizer de Santo Tomás de Aquino, lavar as potências mais baixas da alma, relacionadas com os sentidos e os desejos e sensações liados a ele, e relacionados com nossas diversas paixões. Santa humildade extrema, que quis morrer pelos escravos. Aquele que dá vida aos anjos, quis morrer pelos homens. Sim!! Ele nos convida a experimentar a humildade. Convida-nos a abandonar o desejo de ser amado, de ser aceito, conhecido, honrado, louvado, aprovado, estimado e procurado, como reza a ladainha da humildade, composta pelo grande Cardeal Rafael Merry del Val, amigo intimo de São Pio X. Sim!!! O Senhor nos convida a abandonarmos o receio de ser humilhado, desprezado, sofrer repulsas, do receio de ser caluniado, esquecido, ridicularizado e difamado, pois foi tudo isso que Ele viveu na cruz.
Tamanho o desapego de Nosso Senhor, que se formos observar, na história dos Evangelhos, há apenas um relato em que é mencionado, que Nosso Senhor canta. É justamente, após a última ceia a caminho do horto das Oliveiras, em que Jesus canta salmos, como prevê a Lei judaica. É o exemplo a ser seguido. Exemplo de obediência, pois Ele foi obediente até a morte, e morte de cruz (Fl 2,8). Todo este itinerário culmina na cruz, onde Cristo é escarnecido, suspenso no madeiro, desnudo, cuspido, surrado. A Água viva, grita, “tenho sede”, e Ele então, é “saciado” pelo fel, pelo vinagre. E na sua morte, Ele chega ao cume da sua missão, o ápice, a hora decisiva, em que o Filho do Homem será glorificado. O momento da reviravolta. O momento da morte da morte. Está perto da hora em que iremos cantar: “Ó morte, onde está a tua Vitória?” Pois morrendo Deus encarnado, este encontrar-se-á com a morte, para destruí-la definitivamente.
Por isto, nesta grande Semana, diferente de todas as outras semanas santas que vivemos, é o momento favorável para nos configurarmos as dores de Cristo, de completar na sua carne, o que falta ao seu Santo sacrifício, de experimentar, sobretudo, neste itinerário, a cada passo dado nesta Semana, o Amor. Não esse amor subjetivo, sentimentalista, que mais tem haver com carências, caprichos ou paixões. Refiro-me ao amor decisivo, determinado, amor que se esquece de si mesmo e se desgasta, como Jesus, que sangra, que é ferido como Nosso Senhor. Que o nosso coração orgulhoso e ferido pela soberba seja transformado, e até trocado, pelo teu Coração, Jesus, tão manso e humilde! Que diminua eu, até desaparecer. Pois queremos te ver, Senhor!! Queremos atravessar o silêncio do Sábado Santo, e rompê-lo na Vigília Pascal, quando teremos a certeza, como Nossa Senhora teve, de que a morte, finalmente, terá sido vencida. E como Maria, a Virgem do silencio, exclamar: “Ele está aqui!! Ele venceu e vivo está!!” Eis o roteiro para esta Semana, queridos irmãos! Já temos traçado o nosso percurso!! Vivamos intensamente estes dias!!!