Ao longo dos séculos, a Igreja reconheceu que, por trás de cada gesto da história da salvação, havia corações que batiam — não apenas por dever, mas por amor incondicional. Deus que se encarnou e assumiu um “coração” humano e corações que, completamente entregues ao querer divino. O Sagrado Coração de Jesus, o Imaculado Coração de Maria e o Castíssimo Coração de São José formam, juntos, uma única melodia de amor redentor, vivida na carne, no espírito e na fé.
Não se trata de três devoções isoladas, mas de uma comunhão viva de entrega, sacrifício e ternura, que continua a falar ao coração da Igreja e de cada fiel.
É por isso que a Igreja, com sabedoria e carinho, reserva dias especiais para celebrá-los: a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, sempre na sexta-feira após a oitava de Corpus Christi; a memória do Imaculado Coração de Maria, no sábado seguinte; e, mais recentemente acolhido em muitos calendários, o dia do Castíssimo Coração de São José, celebrado primeiro sábado após o Imaculado Coração.
O Sagrado Coração de Jesus: o amor que se deixa ferir
O coração de Jesus não é apenas símbolo. É realidade viva do amor de Deus feito homem.
É o coração de quem amou até sangrar. Quem ousaria imaginar que o Criador do universo se deixaria traspassar?
• João 19,34: “Mas um dos soldados abriu-lhe o lado com uma lança, e imediatamente saiu sangue e água.” — Neste momento, não apenas se cumpre uma profecia; se rasga o véu entre Deus e o homem, e jorram os sacramentos que sustentam a Igreja.
• Mateus 11,29: “Aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração.” — Quando o próprio Deus define o que há em seu coração, Ele o faz com mansidão e humildade.
O Catecismo da Igreja Católica ensina (CIC 478) que Jesus conheceu e amou cada pessoa durante toda sua vida, agonia e paixão — com um coração verdadeiramente humano, que sofreu e se entregou. O Papa Pio XII, na encíclica Haurietis Aquas, afirmou que o Coração de Jesus é “a síntese da religião cristã”, pois concentra-se no amor que salva. O Concílio Vaticano II (Lumen Gentium 5) reforça: é na cruz que esse amor se manifesta plenamente — um amor que se oferece sem medida.
O Imaculado Coração de Maria: um amor que sofre com fé
Se o Coração de Jesus se entrega, o Coração de Maria acompanha — em silêncio, em lágrimas, em fé inabalável. Ali, no fundo da alma da Virgem Santíssima, cada passo do Filho é vivido também por sua Imaculada Mãe.
• Lucas 2,19: “Maria conservava todas estas palavras, meditando-as no seu coração.” — Um coração que guarda os mistérios de Deus em silêncio fecundo.
• Lucas 2,35: “E uma espada traspassará a tua alma.” — Não é apenas dor: é participação redentora no sofrimento do Filho.
O Catecismo (CIC 964) reconhece que a união de Maria com Cristo foi total, inclusive em Sua entrega dolorosa junto à cruz. O Concílio Vaticano II (Lumen Gentium 58-61) afirma que a Virgem Santíssima cooperou de modo “absolutamente singular” com o Plano de Salvação. São João Paulo II, na Redemptoris Mater, fala do “coração cravado pela espada da dor”, mas profundamente unido ao de Cristo. É o coração da Mulher que disse ‘sim’ até o fim, mesmo nas dores, nas lágrimas, mas sempre confiando.
O Coração Castíssimo de São José: amor silencioso e forte
No Coração de José não há discursos, nem registros bíblicos. Há testemunho vivido, gestos que salvam. Sua justiça não é feita de palavras, mas de atitudes moldadas pela obediência e pelo cuidado.
• Mateus 1,19: “José, seu esposo, sendo justo…” — Ele escolhe proteger, acolher, crer — mesmo no escuro.
• Mateus 2,13-15: A fuga ao Egito revela sua prontidão em defender o Menino Deus. Quantas noites em claro? Quantos medos calados? Quantas renúncias silenciosas?
O Catecismo (CIC 532-533) mostra que a vida oculta de Nazaré é uma escola de comunhão com Deus no cotidiano. São João Paulo II, em Redemptoris Custos, diz que José exprimiu concretamente sua paternidade como serviço e sacrifício, com “coração de pai”. É o coração que protege no silêncio, que ama sem exaltações, que ensina sem palavras.
Três Corações, uma única história de amor
Não há missão maior que a de salvar. E Deus quis que essa missão passasse pelo amor de Seu Filho, o amor da Mãe Virginal e o do Pai Nutrício.
Juntos, os Corações de Jesus, Maria e José revelam que a salvação é feita de sangue e oferta, de cruz e colo, de obediência e esperança. Eles nos ensinam que não se ama com reservas, não se vive a fé pela metade, não se responde ao chamado de Deus com desculpas.
O Catecismo nos recorda: “O amor é o primeiro dom que contém todos os outros” (CIC 733). E nesses três Corações encontramos o amor mais puro, mais forte, mais fecundo que o mundo já conheceu.
Referências:
• Bíblia Sagrada (Edição Ave Maria): Jo 19,34; Mt 11,29; Lc 2,19; Lc 2,35; Mt 1,19; Mt 2,13-15
• Catecismo da Igreja Católica: §§ 478, 532, 533, 733, 964
• Concílio Vaticano II – Lumen Gentium, Cap. VIII
• Encíclicas: Haurietis Aquas (Pio XII, 1956); Redemptoris Mater (João Paulo II, 1987); Redemptoris Custos (João Paulo II, 1989)

Gustavo Lucena, fvc
Membro associado da Comunidade de São Pio X