O Purgatório constitui uma fonte de grande esperança. É este fogo interior, purificador pelo qual a alma passa após a morte, caso o fiel tenha morrido em estado de graça e na amizade com Deus, porém ainda apresente necessidade de purificação, tendo em vista que o primeiro mandamento que Jesus nos ensinou é “Amarás ao Senhor teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e toda a tua mente”. E o segundo é semelhante ao primeiro: “Amarás ao teu próximo como a ti mesmo”. Esta é uma realidade primordial.
Diante da morte, mediante o juízo particular, para que o homem possa contemplar a visão beatífica de Deus, é necessário que estejamos em um estado de amizade perfeita com Deus, sem apresentarmos nenhum vestígio de impureza, porque o Senhor é totalmente santo e com Deus ninguém convive se não for totalmente d’Ele. Diz o livro do Apocalipse 21,27 que, no céu, na “cidade santa”, na “nova Jerusalém (…) não entrará nada de impuro”.
Daqui emana a realidade e a necessidade do purgatório. Assim ensina o Catecismo da Igreja Católica: Aqueles que morrem na graça e na amizade de Deus, mas imperfeitamente purificados, estão certos da sua salvação eterna, todavia sofrem uma purificação após a morte, afim de obter a santidade necessária para entrar na alegria do céu. A Igreja chama de purgatório esta purificação final dos eleitos, purificação esta que é totalmente diversa da punição dos condenados” (CIC, §1030-1031). Perceba que o purgatório nada tem a ver com o inferno, para onde realmente vão aqueles que já foram condenados.
A Sagrada Escritura também nos apresenta um ensinamento a este respeito baseado nos escritos de São Paulo onde a Igreja entendeu também esta realidade do Purgatório. Em 1Cor 3,10, ele fala de pessoas que construíram sobre o fundamento que é Jesus Cristo, utilizando uns, material precioso, resistente ao fogo (ouro, prata, pedras preciosas) e, outros, materiais que não resistem ao fogo (palha, madeira). São todos fiéis a Cristo, mas uns com muito zelo e fervor, e outros com tibieza e relutância. E Paulo apresenta o juízo de Deus sob a imagem do fogo a provar as obras de cada um. Se a obra resistir, o seu autor “receberá uma recompensa”; mas, se não resistir, o seu autor “sofrerá detrimento”, isto é, uma pena; que não será a condenação; pois o texto diz explicitamente que o trabalhador “se salvará, mas como que através do fogo”, isto é, com sofrimentos.
Desta forma as almas do purgatório, como ensina o catecismo, já tem garantida sua salvação, porém precisam desta purificação para que alcancem a graça de contemplar Deus face a face. É interessante observar esta realidade quando aqueles que são purificados neste estágio, percebem o quanto Deus os amou, e começam a se dar conta de que não foram capazes de amá-lo de volta, e começam a sofrer por isto. E este sofrimento de perceber que não amaram suficiente gera um fogo interior purificador de tal modo que é capaz de purgar suas penas, seus vícios, egoísmos e demais escórias. Desta forma, esta alma sofre sim, porém, apresenta um sofrimento impregnado da luz proveniente da Graça de Deus, a qual gera esta certeza, esta alegria, porque já se reconhece pertencente para sempre ao seu Deus. Portanto, alegremo-nos, porque quando falamos em purgatório, falamos em esperança. E a esperança não decepciona.
Por: Romero Frazão, fvc