A Vocação se configura em três aspectos ou dimensões: O chamado, que vem do Criador; a resposta, que é humana; e a missão, que será decorrente da resposta. Estamos no mês de agosto, mês vocacional, momento oportuno para recordarmos e renovarmos a vocação de cada um de nós, entendendo que vocação é um chamado de Deus, em sua dimensão mais ampla, um chamado à vida, ao amor e à santidade, que é a vocação universal de todos os batizados. E assim, o Criador nos convida, através do sim à vocação reservada a cada um, a assumirmos o verdadeiro sentido da vida cristã, unindo-nos a Ele, na pessoa de Jesus Cristo, resgatando a nossa condição originária da Criação de sermos Sua imagem e semelhança, enquanto peregrinos nessa vida terrena.
De maneira muito simplificada, podemos dizer que a vocação matrimonial consiste no convite de Deus a um homem e a uma mulher a se unirem num relacionamento de profundo amor e santidade, gerando, como fruto fecundo dessa união a vida, os filhos. São chamados, de modo muito especial, a caminharem juntos, esposo e esposa; a viverem uma só realidade e um só projeto; uma só carne, com a finalidade última de ambos alcançarem o céu, a morada eterna, selando, de forma definitiva, nossa união com Cristo. Os esposos, unidos pelo Sacramento do Matrimônio, são chamados a viver, já na realidade humana em que se encontram, a essência do próprio Deus, que é o Amor Trinitário, decorrente da relação perfeita, incondicional e plena de amor entre Pai, Filho e Espírito Santo. São chamados a viver não um amor qualquer, um amor mundano, mas sim, o amor com o qual o próprio Cristo nos amou na Cruz, um amor de entrega e doação, livre, total, fiel, fecundo e salvífico, que não tem o “eu” como destino, mas o outro.
“Amar é tudo dar e dar-se a si mesmo”, nos diz Santa Teresinha, retratando-nos bem o amor com que somos chamados amar. A vocação matrimonial é também um convite de Deus para a santificação, caminho no qual somos impelidos a cada dia aderir à pessoa de Cristo, colocando em prática, nos pequenos gestos e nas pequeninas coisas do relacionamento conjugal e familiar, os ensinamentos do Mestre: doação e entrega; perdão, compaixão e misericórdia; silêncio e obediência; caridade, humildade e mansidão; compreensão, acolhimento e companheirismo; auxílio mútuo e, sobretudo, o amor virtuoso. Configurados a cada dia a Cristo, os esposos se santificam mutuamente, sendo um para o outro, a “tábua de salvação”. Temos, portanto, à medida que aceitamos e mergulhamos nessa vocação, não só a missão, mas a oportunidade e o privilégio de ser, no dia a dia, a face de Cristo para o outro.
“A Família é um celeiro de vocações, … fonte inestimável de amor e santidade” (São João Paulo II). Não temos como encerrar sem falar da fecundidade do amor conjugal, da abertura à vida, da disponibilidade e docilidade em receber os filhos que Deus deseja nos confiar, educando-os na lei e nos ensinamentos de Cristo e da Igreja. Muito ainda poderíamos discorrer sobre a contribuição e a importância dessa vocação para a Igreja e para a sociedade, mas, da maneira como iniciamos, gostaríamos de encerrar esta reflexão, ressaltando a maior dentre elas, que consiste na busca dos esposos sacramentados em ser a imagem e semelhança de Deus, resplandecendo o Seu Amor Trinitário para toda a criação, testemunhando concretamente o autêntico amor cristão.
Por fim, o amor conjugal, assumido através do Sacramento do Matrimônio, expressa, revela e participado grande mistério da união de Cristo e da Igreja (Ef 5,32), e da aliança eterna de Deus com seu povo. E deste dom de altíssima dignidade, decorre a sublime missão, como os desafios, conferido aos filhos e filhas de Deus que selam sua união conjugal em Cristo.
Marleide Fernandes, fvc
Membro associada da Comunidade de São Pio X