A Eucaristia é apenas um símbolo?

Meditando o Evangelho segundo São João em seu capítulo 6, mergulhamos no grande Mistério que nos ultrapassa. Aquele que se constitui na força dos santos, no remédio de imortalidade, a seiva da Igreja, o verdadeiro Maná, o alimento para a vida eterna. Refiro-me à Eucaristia. Mistério desta grandeza não pode jamais ser reduzido a um puro símbolo, pois tudo na Escritura  converge para atender ao desejo de Nosso Senhor, de permanecer conosco até o fim dos tempos. Interessante observarmos todo este capitulo do Evangelho, versículo por versículo, o qual se inicia com a narrativa da multiplicação dos pães (Jo 6, 1-15), prefigurando o tremendo milagre da instituição da Eucaristia, que viria a nos saciar. Ante a multiplicação dos pães, o povo perplexo exclamava: Este é verdadeiramente o profeta que há de vir ao mundo (Jo 6,14).

Seguindo o curso deste capítulo (Jo 6,16-21), percebemos outro grande feito. Milagrosamente, o Senhor está ali, acessível, e mostrando que tem autoridade sobre as leis naturais, caminhando por sobre as águas, estando o mar agitado, em meio ao vento muito forte em plena escuridão, pois era noite. Mesmo diante do medo que se apossou dos discípulos, ainda assim, quiseram recebe-lo na barca.

A seguir, a grande revelação (Jo 6, 22-58), por vezes interrompida, pelos questionamentos acalorados da multidão. Jesus com autoridade falava: “Eu sou o Pão da vida, aquele que vem a mim não terá fome, e aquele que crê em mim jamais terá sede” (Jo 6,35). O discurso é impactante: “Quem come a minha carne, e bebe o meu sangue terá a vida eterna, e Eu o ressuscitarei no ultimo dia. Pois a minha carne é verdadeiramente uma comida, e o meu sangue é verdadeiramente uma bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue, permanece em mim e eu nele” (Jo 6, 54-56). Mas é precisamente nessa hora, após Jesus ter realizado dois grandes milagres vistos e experimentados por uma grande multidão, como revela o Evangelho, que Nosso Senhor é desacreditado. “Isto é muito duro! Quem o pode admitir?” (Jo 6,60). Dentre aqueles que o seguiam, era notória a perplexidade. Não acreditavam que fosse possível. “Desde então, muitos dos seus discípulos se retiraram e já não andavam com Ele” (Jo 6, 66). Interessante observar que Jesus, apesar de ter ficado quase sozinho, não se retratou ante o seu discurso, não os chamou de volta para dizer que se tratava de um símbolo, que estava usando de parábolas. Pelo contrário, Ele incitou aos que ficaram: “Quereis vós também retirar-vos? E Simão Pedro responde: ‘Senhor, a quem iríamos nós? Tu tens as palavras de vida eterna!” (Jo 6,68). Para mostrar que a Eucaristia nos ultrapassa! Ultrapassa todo entendimento racional, lógico e cientifico. Pois se trata de uma questão de fé.

Falamos de uma presença real, reafirmada pelo próprio Cristo na última ceia, ao proclamar que “Isto é o meu Corpo, que é dado por vós, fazei isto em memória de mim (Lc 22,19), referindo-se da mesma forma ao tomar o cálice, dizendo que “este cálice é a Nova Aliança em meu sangue, que é derramado por vos” (Lc 22, 20. São Paulo, já no ano 56, deixava claro aos coríntios que quem comesse indignamente da Eucaristia se tornaria réu do corpo e do sangue do Senhor (I Co 11,27).

Tal presença real já era confirmada pela Igreja desde os primórdios do cristianismo tal como se pode atestar na Didaquè, primeiro catecismo da Igreja, datado do século I, do tempo dos Apóstolos, que traz prescrições bastante precisas sobre a forma de celebrar a Eucaristia. Santo Inácio de Antioquia, primeiro a se referir a Igreja pelo nome de “Católica”, escrevendo aos Efésios, no ano 102, já afirmara: “Esforçai-vos por vos reunir mais frequentemente para celebrar a Eucaristia de Deus e o seu louvor”. Assim também menciona São Justino, martirizado no ano 165: “ Porque não tomamos estas coisas como pão e bebida comuns, mas da mesma forma que Jesus Cristo, nosso Senhor se fez carne e sangue para nossa salvação, assim também nos ensinou que por virtude da oração do Verbo, o alimento sobre o qual foi dita a ação de graças, é a carne e o sangue daquele mesmo Jesus encarnado. E poderíamos citar inúmeros outros escritos patrísticos, que mencionam a veracidade do Corpo e Sangue de nosso Senhor Jesus Cristo na Eucaristia, porque há um vasto testemunho de santos , homens e mulheres, dos primórdios do cristianismo que testemunham tal verdade de fé, da qual depende toda a Igreja, haja vista que a Igreja vive da Eucaristia, como menciona São João Paulo II em uma de suas encíclicas Ecclesiae de Eucharisthia) – Penhor e ápice de toda a vida cristã. Ora, como afirmar que se vive de uma simbologia? Se assim o fosse, estaríamos vivendo uma mentira. E não há mentira que não venha a ser desmascarada. Verdade que não venha a ser revelada. Eucaristia e a presença Real de Cristo, Corpo, Sangue, Alma e Divindade de nosso Senhor, vivo, ressuscitado, glorioso, intimamente associado a sua cruz, como diria santo Tomás de Aquino ao afirmar que, “na cruz, Cristo esconde sua divindade. Na Eucaristia, Ele esconde até a sua humanidade”. Tremendo mistério de amor. Escondido atrás do véu da hóstia. Eis o mistério da Fé!! Proclama o sacerdote.

Todos os santos proclamavam sua fé nesta presença real, desejando-se consumir de amor por aquele que se esvaziou, em khenosis, como diria São João Crisóstomo, dando-se todo, não restando nada para si, ou como santa Tereza d’Avila que, referindo-se à Eucaristia, afirmara que não há melhor meio para se chegar a perfeição. São João Maria Vianey relatara que cada hóstia consagrada é feita para se consumir de amor em um coração humano. Os Santos foram unânimes ao se referir a Eucaristia como o  verdadeiro sentido de toda a existência. Porque é a doação na sua forma máxima. O Deus do universo, que se faz tão pequeno para caber em uma partícula, ao ponto de se esconder nela e se fazer alimento espiritual de sua criatura. Por isso santo Agostinho afirma: “Sendo Deus onipotente, não pôde dar mais. Sendo sapientíssimo, não soube dar mais; e sendo riquíssimo, não teve mais o que dar.” Simplesmente porque Ele deu-se a si mesmo.

Como se não bastasse, mesmo sem a necessidade de fazê-lo, o Senhor ainda nos confere os milagres eucarísticos, por causa da nossa pouca fé: Na Itália, no ano 700. Um milagre que perpassou séculos e chega ate os nossos dias, chega aos nossos olhos para que possamos contemplar no nosso tempo, a carne do miocárdio que continua exposta no relicário, na cidade italiana de Lanciano. Sem falar no sangue coagulado, Sangue do tipo AB, a propósito. Milagre este que foi desafiado pela ciência, onde ao final, esta teve que curvar-se e proclamar (em latim): “Et verbum, carum factun est” (E o Verbo se fez Carne). É verdadeiro sangue, é verdadeira carne, um músculo do coração para ser mais preciso, atesta a ciência moderna. Poderíamos citar inúmeros outros milagres eucarísticos: Orvieto e Bolsena, em 1263, o milagre que deu origem a festa de Corpus Christi, além de Ferrara em 1171, Sena em 1330 e Túrim, em 1453.

Ainda assim, mesmo com tantos sinais maravilhosos desta presença real, deste tão sublime sacramento, ainda assim muitos dizem, como no Evangelho: Esta palavra é muito dura!! Quem a pode suportar? E muitos, como em outrora, rejeitam, e vão embora, não mais andando com o Mestre. Sinal triste que a humanidade vivencia – uma crise de fé, de onde emanam todas as crises. Muitos se esqueceram desta nobilíssima devoção, que no dizer de são Pio X, é a mais nobre de todas, porque tem o próprio Deus por objeto; é a mais salutar porque nos da o próprio autor da graça; é a mais suave pois suave é o Senhor.      

  O Senhor cumpre as suas promessas. Ele veio habitar no meio de nós e afirmou antes de sua partida, que permaneceria conosco até o fim dos tempos. Sua presença eucarística nos assegura o cumprimento de sua promessa. E nos antecipa o alimento espiritual que nos guarda para a vida eterna, ou no dizer de Santo Afonso Maria de Ligório: o tempo que passardes diante do Divino Sacramento, será o que vos dará mais força durante a vida, mais consolação na hora da morte e durante a eternidade. Portanto, como rejeitar, como não amar um Deus assim? Amemos Nosso Senhor, com tudo o que tivermos e unamo-nos a Ele, compreendo que a Eucaristia nos configura a Cristo e nos transforma nEle. Somos transformados naquele que comungamos.

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