A frase inspiradora de São Pio X – “Haverá santos entre as crianças” – ecoa fortemente em nossos tempos, lembrando-nos da importância de cultivar a santidade desde cedo. Nos últimos anos, a Solenidade de Todos os Santos tem sido marcada, em diversos lugares, pela participação das crianças, vestidas com trajes que representam seus santos de devoção, muitas vezes inspirados em seus próprios onomásticos. Essa prática simples, porém profunda, simboliza um gesto poderoso: uma comunidade que apresenta aos seus pequenos modelos de virtude e de fé genuína.
Um dos grandes gestos de São Pio X para que essa profecia fosse se tornando realidade foi sua determinação de que as crianças pudessem receber a Eucaristia a partir da idade da razão, desde que bem preparadas. Para a Igreja, a “idade da razão” refere-se ao período de desenvolvimento que ocorre por volta dos 7 anos de idade. Nesse estágio, as crianças começam a ter uma compreensão mais clara das noções de certo e errado, bem e mal, além de distinguir fantasia de mentira. Elas se tornam mais conscientes das relações de causa e consequência e, gradualmente, passam a ser menos egocêntricas, desenvolvendo uma noção maior de responsabilidade e empatia. Esse amadurecimento torna possível que as crianças, a partir desse marco, possam compreender a importância do sacramento e de receber Jesus na Eucaristia de forma mais consciente.
Essas crianças, ao se vestirem como santos, assumem de forma lúdica e concreta o papel de grandes heróis da Igreja, figuras que dedicaram suas vidas a Deus e ao próximo. Não se trata apenas de um ato simbólico, mas de uma oportunidade para que cada criança enxergue, através dos exemplos de santidade, o valor de uma vida dedicada à bondade, à pureza e ao amor a Deus. Nessa prática, elas não apenas honram aqueles que já alcançaram o céu, mas também se tornam pequenas promessas de santidade, respondendo ao convite de São Pio X e nos lembrando que a fé pode e deve ser vivida desde a infância.
A representação dos santos pelas crianças vai além de uma celebração. Ela é, na verdade, uma reafirmação dos valores que desejamos transmitir às novas gerações, numa época em que o imaginário infantil está cada vez mais repleto de influências culturais diversificadas, como o Halloween, que muitas vezes contrastam com os valores cristãos. Ao apresentarmos aos pequenos modelos que inspiram coragem, sacrifício e fé, estamos plantando as sementes para uma vida pautada na verdadeira alegria e na paz que vêm de uma vida com Deus.
Em cada sorriso, em cada olhar atento, ao representarem figuras como São Francisco, Santa Teresinha, Santo Antônio, entre outros, as crianças nos dão um testemunho vivo de que é possível cultivar o amor à virtude desde cedo. Como São Pio X profetizou, esses pequenos têm o potencial de ser os santos do futuro. Assim, as crianças são não apenas participantes de uma celebração, mas também uma inspiração para todos nós, um lembrete de que a busca pela santidade é um caminho que pode e deve começar nos primeiros anos de vida.
Vamos cuidar e proteger as nossas crianças, é preciso redescobrir o valor da santidade e reconhecer que a proteção e o cuidado da infância são responsabilidades de todos nós. Que possamos inspirar nossos pequenos a seguir os passos daqueles que viveram para Cristo, firmando em suas almas os valores que os conduzirão a uma vida de felicidade, de paz e, quem sabe, um dia, à própria santidade. Afinal, como dizia São Pio X, “haverá santos entre as crianças”.
Gustavo Lucena, fvc
Membro associado da Comunidade de São Pio X