A arte de corrigir o terreno de minha vida

Eis que um Semeador saiu para semear  (Mt 13,4), e tal como nos narram os Evangelhos sinópticos, percebe-se que a semente é lançada em todos os lugares. O semeador – é Jesus – é a Palavra de Deus, literalmente, porque a Palavra se fez carne, encarnou-se. Et verbum, carum factum est (Jo 1,14). Os lugares não foram necessariamente escolhidos para a semeadura. Em todo tipo de terreno foram lançadas! Eis o problema!! Como este terreno se encontra? Como está o terreno do meu coração? Está apto a acolher a semente semeada?

 

Existe um propósito para a semeadura. Costuma-se semear e espera-se que a semente brote, germine, cresça e gere frutos. Por isso, não importa como está o terreno ou o progresso do solo de tua alma. Sempre é possível melhorar e torná-lo favorável para uma colheita frutuosa.

Por isso, na famosa parábola do semeador, o Senhor nos vai explicando pedagogicamente as fases da nossa vida interior. Para começar, faz-se menção à semente que cai a beira do caminho, e vêm os passarinhos e comem tais sementes. Ou seja, essas sementes não chegam sequer a experimentar qualquer tipo de terreno. Sequer foram acolhidas pela terra. São Lucas irá referir, inclusive, que antes que viessem os pássaros e a comessem, a semente foi pisada pelos homens!! Santo Tomás de Aquino comentando esta passagem nos lembra de algo extremamente grave: as pessoas se esqueceram do real sentido da vida, não tem mais noção ou consciência de pecado, Jesus Cristo não faz parte da sua rotina ou dos seus planos de vida. Triste!!! Vem o demônio sem grandes esforços  e arranca a semente que foi semeada. A pessoa, que já não reza, não consegue perceber sequer que a palavra de Deus lhe sonda, e facilmente pode chegar ao inferno sem uma única ajuda de Satanás, pois como diria Santa Catarina de Sena, “quem não reza, caminha rumo ao inferno sem precisar sequer que os demônios ajudem”. Ou mesmo Santo Afonso Maria de Ligório, que diz que “quem reza se salva, quem não reza, já está condenado”.  As almas que estão à beira do caminho, sequer tem terreno para que as sementes possam germinar, e são inúmeras as possibilidades de queda no abismo.

Por outro lado, existe um tipo de terreno bem especifico. O terreno pedregoso, o terreno da imaturidade, aquele terreno seco, rachado, ansioso por ser hidratado, mas apesar de toda a dureza, é um terreno vivo. Tão vivo que mesmo na secura, a semente que cai neste solo, é capaz de germinar, e contra toda as adversidades climáticas, temporais, consegue tirar literalmente do improvável, o sustento necessário para brotar. Embora não tenha boas raízes, germina com toda a alegria do rebento, como aquele que nasceu de novo, que retornou a vida, pois antes estava morto. Aquela semente ansiosa pela luz do sol, mas como não tem raízes profundas, não se sustenta , é inconstante, em contato com a luz do sol, sobretudo, o Sol da Justiça, acaba queimando, seca, pois não suporta conviver com a Palavra, vêm as perseguições, que geram ocasiões de queda. São inúmeros os que estão neste estado de luta espiritual. Tem o encontro pessoal com a Palavra semeada, mas a frouxidão das raízes não deixa progredir. Não compreendem, por exemplo, a necessidade de fincar as raízes bem fundo, a fim de extrair a seiva que está na intimidade deste solo, ou seja, desta alma batizada, com o firme propósito, uma “determinada determinação”, no dizer de santa Tereza d’Ávila, de irrigar este solo pedregoso, duro, a fim de que a alma possa progredir na caridade, no amor a Deus.   

Ainda existe um outro tipo de terreno, talvez ainda mais perigoso, um terreno cheio de espinhos. Enquanto que o terreno pedregoso diz respeito aos agentes externos que o deixaram assim, duro, impermeável e na linguagem alegórica, causaram uma esclerocardia, uma dureza de coração, com os espinhos é diferente, porque estes fazem parte da planta. Portanto, a semente que cai numa terra cheia de espinheiros, corresponde a uma realidade em que a Palavra é sufocada pelas próprias paixões interiores. Não me refiro aqui aos pecados mortais ou mesmo veniais, muitas vezes, já superados. Aqui, o inimigo é a própria alma humana, concupiscente, tendenciosa ao mal, pois “deixo de fazer o bem que quero e faço o mal que não quero” (Rm 7,19), e aqui são estes espinhos, estas más tendências que sufocam a Palavra semeada em mim, e que podem me destruir. Esta parábola do semeador, portanto, nos traz uma narrativa prática dos três inimigos da alma, parafraseando são Joao da Cruz: o demônio (a semente que cai a beira do caminho); o mundo (a semente que cai em solo pedregoso) e a própria carne, a alma humana (a semente que cai em solo cheio de espinhos).

Felizmente, existe um terreno, um solo, onde a semente pode cair, de modo a colhermos frutos cem por um. Sessenta por um, trinta por um, mediante a conquista da fé, tomando mesmo de assalto, o Reino de Deus, que para nós foi preparado, vencendo todas as adversidades seculares, a partir de um  compromisso sério com uma vida de virtudes, e sobretudo, derrotando a si mesmo e abraçando a cruz que o Senhor nos permite carregar, acolhendo-a verdadeiramente a medida que ela vai se manifestando na sua vida. A terra boa é aquela que saúda a cruz de Cristo, nossa única esperança, que nos fará vencer todos os males. Saudemos a cruz do Senhor que nos ensina a suportar a nossa cruz particular com a alegria e a certeza dos frutos que serão colhidos. Pois foi para isto que, em Cristo, viemos a este mundo.  Viemos para a cruz, e por consequência, morrermos para o mundo, e gerarmos frutos para uma vida eterna de alegria, consolação e contemplação dAquele que É. Preparemos o terreno do nosso coração pela via da oração, pelo combate aos valores do mundo, buscando uma vida de virtudes, e vencendo todos os dias a si mesmo, a fim de conformar-se a Nosso Senhor. Pois, como afirma santa Tereza d’Ávila: a via para a santidade é o autoconhecimento.

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